Desde o final dos anos 70 no século 20, os Estados Unidos estão com déficit na balança comercial, exportando sempre menos do que o valor de suas importações. O período posterior à Segunda Guerra Mundial, definido por Robert Reich como compreendendo de 1947 a 1975 foi marcado pela “grande prosperidade” nos Estados Unidos. Entretanto, desde o final dos anos 70 os déficits comerciais têm produzido importante impacto negativo na economia americana.
Um dos fenômenos significativos foi o processo de “offshoring”. Esse é o processo no qual as empresas transferem a sua produção para outros países, transferindo junto os níveis de emprego e a renda das famílias. Os níveis maiores de importações do que das exportações somaram à renda menor das famílias, o gasto dessa renda em produtos importados. Então, ganha-se menos e o que se ganha vai embora, alimentando a atividade econômica estrangeira.
Agravando o cenário já fadado ao fracasso, o estímulo ao consumo interno fomentando o aumento constante do endividamento foi a saída que o Estado Americano usou para sustentar a atividade econômica. A manutenção do poder de compra estimulou a bolha do mercado imobiliário. Uma vez que são imóveis o produto de maior preço que o consumidor pode comprar, na busca do estímulo à economia, o Estado Americano promoveu o financiamento de imóveis a juros baixos para pessoas com histórico de crédito ruim. Essa foi a prática das chamadas hipotecas subprime, promovendo o crescimento do setor da construção civil. E mais, a diminuição da renda combinada com a manutenção do consumo, estimulou outra prática de elevado risco para a saúde do setor financeiro, a prática da segunda hipoteca sobre o imóvel das famílias, conhecida como piggyback.
Após a valorização dos imóveis residenciais e sua articulação com o ciclo econômico, o resultado foi a recuperação econômica de 2002. Porém, essa recuperação se deu sobre uma bolha, sem sustentação e com destino certo, a falência com a crise das hipotecas subprime. Foi esse o momento em que o ambiente econômico mundial se deu conta do que se passava nos Estados Unidos enquanto sentia sobre si, os efeitos da crise americana.
Em 2009, após anos sucessivos de aumento no déficit da balança econômica, pela primeira vez esse déficit diminui. Mas, sem sair do vermelho, em 2009 a balança ainda é negativa. Após 2009, de 2010 até hoje, novamente a balança comercial americana vem apresentando ano após ano, um déficit cada vez maior.
A partir da visão sistêmica macroeconômica mundial, o que se prevê para o cenário econômico brasileiro gera importantes preocupações. Existe um risco por poucos observado e ainda por menos controlado. Nossas exportações para a China crescem ano após ano. A China é o principal cliente destino das exportações brasileiras. Já para a China, os Estados Unidos são o principal cliente destino de suas exportações. A lógica é simples e certa, vender para quem vai mal implica em ir mal também. Ou seja, estamos cada vez mais vendendo para a China e é questão de tempo o resultado do efeito chinês-americano na economia brasileira.
CARMEN THOMAZI – carmen@davinciprojetos.com.br
Engenheira Química e diretora na Da Vinci Projetos. Membro do conselho de gestão de várias empresas e docente na Educação Executiva da Faculdade FIPECAFI. Possui experiência em gestão de processos e gestão de pessoas. Executa o planejamento, organização e direção em projetos de gestão sistêmica e educação corporativa.