A busca por sistemas térmicos cada vez mais eficientes faz com que inúmeras novas tecnologias sejam criadas. Utilização de inversores, controladores, automação, lógicas de controle, sistemas de monitoramento remoto e muito mais. Esta procura saudável e incansável não deve cessar, entretanto, nunca se deve tirar o olho daquilo que é básico em cada processo de transformação de energia.
A caldeira que usávamos no inicio da revolução industrial ainda mantém o mesmo princípio das que operam hoje. O primeiro motor à combustão interna em um veículo ainda vive nos veículos atuais, e os primeiros compressores de refrigeração, ainda operam com princípios similares.
Alias, onde eu trabalho ainda possuímos compressores de amônia Sulzer da década de 60, e em perfeita condição de operação (só não de rendimento… rsrs).
Economia de energia com a regulagem correta do porto de descarga de compressores de amônia
Desta forma, não esquecer da mecânica e da termodinâmica dos processos é fundamental. Nos compressores parafuso de refrigeração industrial, o fluido (geralmente amônia – R717) é admitido e se desloca através de fusos de compressão, sendo descarregado e fluindo para o condensador. No meio do caminho entre os fusos e a descarga é possível regular o volume interno da descarga do compressor (VI). Permitindo, assim, a regulagem da compressão e ajustando o quanto se quer comprimir (a qual medida o volume do gás refrigerante aspirado deve ser reduzido). Nos compressores Mycom da série V, os VIs são fixos em 2,6; 3,6 ou 5,8 (os da série J já possuem a característica de VI variável). Já nos compressor Frick (Johnson) existe tanto um sistema com VI automático, regulado de acordo com os parâmetros de operação, quanto com VI manual. 2,2 ou 5,0.
O fato é, que, para cada regime de operação do compressor, existe uma regulagem correta a se aplicar a máquina (neste caso usaremos o exemplo dos compressores Mycom). Assim, conhecendo a pressão de sucção e a pressão de descarga, defini-se graficamente qual é a regulagem correta do VI daquele compressor. Como a foto possui algumas de minhas anotações do dia-a-dia, tracei as curvas mais usuais, para -10 / +35 e VI em 2,6 (L), e -35/+35 com VI em 5,8 (H).
Mas por que isso é importante em meus compressores?
Com a regulagem adequada do VI, você ajusta o volume específico do fluído na descarga do compressor, de acordo com o fluxo de massa requerido pelo mesmo. Esse fato gera menos esforço para a máquina, menos trabalho mecânico e, consequentemente, menor consumo de energia.
Um compressor Mycom de 650 CV encontrava-se operando com o VI em M, quando o correto era L. Instalamos o analisador de energia no painel e verificamos o comportamento dele, antes e depois do ajuste do VI.
O resultado foi uma redução de 70 kW/h no consumo da máquina, cerca de 15% daquele equipamento. O que representa uma economia anual da ordem de R$ 100.000,00.
Nenhuma tecnologia nova foi empregada. Também não foi realizado nada de tão novo que já não possa ter sido feito por outras pessoas. Ainda assim, muitas horas de trabalho, pesquisa, análise e estudo para se chegar na decisão correta. Após a certeza do que fazer, um bom analisador de energia, uma boa equipe de manutenção, e muito mais trabalho, nos ajudaram a mensurar, atuar e comemorar os resultados.
Esse texto foi escrito pelo Analista de Eficiência Energética da BRF, Cleberson de Souza Pereira. Ele foi postado originalmente em sua página no Linkedin.